Águas de março – ((o))eco

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É com pau e pedra e o fim do caminho que se inicia “Águas de Março”. Lançada em 1972 no LP Matita Perê, a clássica composição de Tom Jobim fala sobre o fim do período chuvoso do Sudeste do Brasil, marcado pelas chuvas torrenciais. Na letra, Tom descreve a chuva chovendo, o pingo pingando, o peixe, a lama, a ponte, a rã e as águas de março fechando o verão. A música teria sido composta em seu sítio, na Região Serrana do Rio de Janeiro, enquanto acompanhava o “tijolo chegando” e as obras de construção do “projeto da casa” – que, ironicamente, foi destruída pelas chuvas em janeiro de 2011.

No Sudeste, as maiores precipitações ocorrem entre dezembro e janeiro, com as chuvas começando a reduzir em março (fim do verão) e as mínimas em torno de julho. Desta forma, as Águas de Março são a “promessa de vida”, a metáfora de um renascimento. Mas as mesmas águas que trazem a esperança, também possibilitam a destruição quando chegam em excesso.

Uma das inspirações de Tom Jobim para Águas de Março foi o poema “Caçador de Esmeraldas”, episódio da epopeia sertanista de Olavo Bilac, publicado em 1902. No poema, as chuvas também trazem esperança, mas é a falta dela que causa problemas no sertão mineiro: “Foi em março, ao findar das chuvas, quase à entrada / Do outono, quando a terra, em sede requeimada / Bebera longamente as águas da estação”. 

A falta d’ água no sertão foi também o tema de músicas do nordestino Luiz Gonzaga. “Asa Branca” foi composta em março de 1947, em parceria com Humberto Teixeira, sobre versos tradicionais de repentes. A canção que se inicia com “Quando olhei a terra ardendo / Qual fogueira de São João” fala sobre a seca que causa perdas nas plantações e que mata os animais – fazendo migrar até a pomba asa-branca (Patagioenas picazuro). A região possui em média menos de 500 mm de chuva por ano (cerca de um terço das chuvas cariocas de Águas de Março), se concentrando no mesmo março do Sudeste, com as menores quantidades de junho ao fim do ano – quando chove até menos de 10 mm a cada mês.

As águas estão presentes em muitas músicas. Em parte delas, de forma literal: sobre as chuvas e os rios. Em outras, de forma metafórica: as águas passadas, as águas de baixo da ponte, além das chuvas, rios e oceanos que representam sentimentos e lágrimas.

Mas, a música mais literal e didática sobre as águas é provavelmente “Planeta Água“, de Guilherme Arantes. Composta em 1981, inicialmente encomendada para Ney Matogrosso, a obra foi regravada ao longo dos anos por diversos artistas – de Zé Ramalho à Sandy & Júnior. Em sua letra, a música descreve de forma poética o ciclo das águas: que precipitam nas “gotas de água da chuva”, “que o sol evapora” e “sempre voltam humildes pro fundo da terra”. Lançada uma década antes da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (a Rio-92), um marco do ambientalismo brasileiro, Planeta Água se tornou um hino das águas. Das secas do sertão nordestino às chuvas torrenciais sudestinas, as “águas que movem moinhos, são as mesmas águas que encharcam o chão”.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

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