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Em mais uma situação apontada por cientistas como consequência do aquecimento global, insetos de várias espécies que vivem em montanhas estão subindo gradativamente na altitude em que vivem nesses habitats, em busca de ambientes mais frios e frescos. O cenário, que tem resultados “potencialmente catastróficos” para algumas espécies, foi descrito por especialistas consultados pelo The Guardian.
Algumas espécies com esse comportamento e que foram mencionadas por estudos recentes são zangões dos Pirineus, região entre França e Espanha; e mariposas do Monte Kinabalu, em Bornéu. Em casos mais preocupantes, a borboleta montanhesa Erebia epiphron costumava ser bastante presente em todo o Reino Unido, mas está cada vez mais concentrada apenas nos picos mais altos da Escócia e do norte da Inglaterra. Se o aumento médio das temperaturas continuar de forma acelerada, espécies com capacidades mais restritas de adaptabilidade estarão seriamente ameaçadas.
Cientistas começaram a notar esse padrão e têm saído mais frequentemente em expedições para analisar os insetos montanheses. Segundo o balanço publicado pelo jornal britânico, mais da metade dos insetos que vivem nas montanhas e foram estudados até hoje estão se deslocando para cima.
O aumento das temperaturas não é o único motivo identificado para tal comportamento, mas acaba potencializando-o, de acordo com os especialistas. “Espécies de terras altas na Inglaterra normalmente estão em habitats como charnecas ou pântanos, que estão sendo cada vez mais ocupados por casas, plantações, ou outro tipo de uso intensivo. Então muitas espécies podem ser perdidas de qualquer maneira. Mas há evidência de que o clima está aumentando essa pressão”, diz David Roy, do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido.
Esses efeitos ficam mais claros no caso de regiões com presença de insetos aquáticos em altitudes elevadas. O derretimento das geleiras afeta a temperatura e o fluxo de rios e córregos, tornando-os habitats hostis para muitas espécies – 51% das espécies de água doce em altitude já são classificadas como “altamente vulneráveis”.
Mas, também para espécies montanhosas terrestres, a cobertura de neve pode atuar como um “amortecedor” contra o clima mais quente – sobretudo na fase larval, quando os insetos estão se desenvolvendo e são mais frágeis . Então, se acontece o derretimento, os insetos que contam com esse “cobertor” gelado também ficam vulnerabilizados.
“Em geral, não se pensa muito sobre como o ambiente ou o clima tem efeitos diferentes na fase de ovo ou nas fases larvais dos insetos”, diz a professora Christy McCain, da Universidade do Colorado. “Temos a tendência de sempre medir populações de adultos e no verão. Mas esse pode não ser o momento mais crítico para os efeitos das mudanças climáticas, principalmente nas montanhas, onde fica incrivelmente frio e seco”, afirma.
Diversidade de insetos e habitats aumenta a complexidade da questão
Há ainda muitas lacunas que impedem termos a dimensão completa da situação. McCain acredita que a forma como os dados foram coletados historicamente privilegia o conhecimento sobre espécies mais “carismáticas” e conhecidas do público, como borboletas e mariposas; mas que há pouca informação sobre outros grupos. “Existe definitivamente um viés favorável a certas espécies. O resto dos insetos é muito diverso, mas sabemos muito pouco sobre eles”, diz ela.
Ela cita como exemplo besouros-carniceiros, que estão apenas começando a ser estudados em seu laboratório. Segundo McCain, pesquisas estão mostrando que a tolerância ao clima pode ser uma característica genética desse grupo de insetos, que têm uma participação importante na decomposição de animais mortos e vivem em micro-habitats que podem fornecer alguma proteção contra climas extremos. O simples fato de insetos como esses existirem desde o período Cretáceo, tendo sobrevivido a mudanças climáticas incríveis, também pode favorecer sua adaptação agora.
A cientista frisa que não existe um “inseto padrão” ou uma “resposta padrão” às mudanças do clima que estão acontecendo hoje. Para alguns grupos, pode ser que quanto maiores e mais móveis forem os animais, melhores serão suas chances. Também não existe um habitat genérico de montanha – o que aumenta a complexidade dos estudos necessários.
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