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Atualmente, a mineração em mar profundo em águas internacionais é ainda ilegal, limitando-se, por agora, à prospeção. No entanto, os países membros da Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos (ISA) têm debatido a possibilidade de tornar legal essa atividade, mas os cientistas alertam que os impactos sobre a vida marinha das profundezas é incerto e poderá vir a colocar em risco milhares de espécies.
A Zona Clipperton-Clarion (CCZ), no Oceano Pacífico, entre o México e o Havai, constitui uma vasta planície a cerca de cinco mil metros de profundidade e com quase seis milhões de quilómetros quadrados de área, perto do dobro da Índia. Por isso, é considerada um dos últimos ambientes intocados pelo ser humano.
Embora possa, à primeira vista, parecer um mundo desolado e desprovido de vida, na realidade a planície abissal está repleta de vida, desde anémonas que balançam as suas redes de tentáculos ao sabor das correntes, até a pequenos vermes semelhantes a minhocas translúcidas, passando por uma panóplia de esponjas, pepinos-do-mar, estrelas-do-mar, crustáceos e peixes de aspeto alienígena.
Foto: ROV KIEL 6000 / Geomar Bilddatenbank
Até ao momento, foram descobertas mais de cinco mil espécies nessa região oceânica abissal, sendo que apenas 438 foram devidamente identificadas e nomeadas. E, segundo os dados recolhidos e analisados pelos cientistas, estima-se que existam entre seis mil e oito mil outras espécies ainda por descobrir.
“Isto significa que cerca de 90% das espécies não são conhecidas da Ciência”, explica Muriel Rabone, do Departamento de Ciências da Vida do Museu de História Natural de Londres, e principal autora de um artigo publicado recentemente na revista ‘Current Biology’.
Além da biodiversidade que alberga, a CCZ é um local de grande concentração de depósitos minerais, especialmente de hidróxidos ferro e manganês, materiais usadas na produção das chamadas ‘tecnologias verdes’ e que são essenciais para a transição energética dos combustíveis fósseis para fontes limpas e renováveis.
Foto: ROV KIEL 6000 / Geomar Bilddatenbank
Com o aumento do impulso nessa direção, a procura por esse tipo de minerais deverá crescer exponencialmente ao longo das próximas décadas, pelo que muitos são os olhos que estão postos nos depósitos minerais na CCZ, bem como noutras zonas do oceano global.
Nesse trabalho, a equipa de cientistas argumenta que, “dado que as operações mineiras podem estar iminentes”, conhecer a biodiversidade da CCZ será fundamental para gerir os impactos ambientais dessa atividade extrativa e para avaliar o risco de extinção de espécies que lhe pode estar associado.
Apesar de se reconhecer a importância dos minerais para a transição energética e para a mitigação das alterações climáticas, uma das maiores crises planetárias do nosso tempo, a prospeção mineral tem avançado mais rápido do que o conhecimento científico sobre a biodiversidade das profundezas oceânicas.
“Precisamos de saber o que vive nestas regiões antes de podermos começar a perceber como podemos proteger esses ecossistemas”, afirma Adrian Glover, investigador do mesmo museu e outro dos autores do artigo.
“É imperativo trabalharmos com as empresas que pretendem minerar esses recursos para assegurar que qualquer atividade é feita de forma a limitar os impactos sobre o mundo natural”, salienta.
A CCZ é uma das zonas abissais mais bem conhecidas do planeta, sendo cientificamente explorada desde a década de 1960. Contudo, ainda só são conhecidas 10% das espécies que aí vivem, o que não permite aos cientistas saberem como funcionam esses ecossistemas e, por isso, poderem prever, por agora, que impactos a mineração em mar profundo poderá causar.
“Quantificar com exatidão a distribuição e raridade das espécies, componentes-chave do risco de extinção, exige uma abordagem abrangente à taxonomia, estudos moleculares extensivos e métodos quantitativos padronizados”, escrevem os investigadores no artigo.
“Isto é particularmente importante dado que a CCZ é uma das poucas áreas que restam no oceano global” com uma biodiversidade selvagem praticamente intacta, pelo que “dados e conhecimento robusto são essenciais para desvendar esta região única e assegurar a sua proteção futura face aos impactos humanos.”
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