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Reduzida a fragmentos de sua cobertura vegetal original, a Mata Atlântica ainda é capaz de surpreender pesquisadores, como mostra o recente achado de duas novas espécies de árvores frutíferas no bioma, a poucos quilômetros da metrópole do Rio de Janeiro. A uvaia-pitanga (Eugenia delicata) e a cereja-amarela-de-niterói (Eugenia superba) foram descobertas dentro de áreas protegidas nos municípios de Niterói e Maricá, no litoral fluminense. Com baixo número de indivíduos e ocorrências restritas, as duas espécies já podem ser consideradas sob risco de extinção, como alertam os cientistas.
As descobertas foram descritas em um artigo publicado em fevereiro na revista científica Kew Bulletin, publicação do Royal Botanic Gardens, da Inglaterra. A pesquisa é assinada por um time de sete cientistas do Jardim do Botânico do Rio de Janeiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRRJ) e da Universidade Federal do Ceará (UFCE).
O estudo começou a partir de coleções botânicas anteriores, onde duas amostras em particular chamaram a atenção dos pesquisadores, pelo potencial de se tratarem de novas espécies. Apenas com as amostras, entretanto, não havia material suficiente para chegar a essa conclusão e foi organizado um esforço colaborativo em busca das peças que faltavam nesse mistério. As idas a campo compensaram e resultaram na descrição de duas novas espécies de árvores frutíferas para a Mata Atlântica fluminense.
Com troncos de cerca de 12 metros de altura, a uvaia-pitanga chama atenção com seus frutos alaranjados e suculentos que aparecem entre setembro e janeiro, de sabor azedo e aromático. Já a floração, que ocorre entre maio e setembro, desabrocha delicadas pétalas brancas e filamentos coroados por pontos alaranjados.
Enquanto isso, a cereja-amarela-de-niterói dá frutos de cor amarelada, que amadurecem a partir de dezembro, e apresenta flores grandes com pétalas verdes e grossas. A árvore apresenta um tronco avermelhado de 15 metros de altura e encantou tanto os pesquisadores que, em seu batismo científico, “superbus”, fazem uma referência ao aspecto soberbo da árvore e do local onde foi encontrada, cercada por outras grandes árvores.
Diferentes de aparência, mas em situações parecidas de alerta. A área de ocorrência da uvaia-pitanga é estimada em 42 km², com populações registradas em apenas seis localidades. Ainda que se tratem de áreas protegidas, como o Parque Estadual da Serra da Tiririca, os pesquisadores alertam que “pode-se inferir um declínio contínuo na área, extensão e/ou qualidade do habitat, uma vez que seus pontos de ocorrência estão ameaçados principalmente pela expansão urbana e incidência de incêndios”. Por isso, sugeriram que a espécie seja classificada como Em Perigo.
No caso da cereja-amarela-de-niterói a situação é ainda mais grave. A árvore tem uma área de ocorrência de apenas 1,5 km² e é encontrada apenas em três pequenos fragmentos florestais vizinhos da cidade e do mar. Ao todo, os botânicos contabilizaram apenas quatro indivíduos adultos na área pesquisada.
“Além disso, suas pequenas subpopulações estão isoladas umas das outras (ou seja, severamente fragmentadas). Embora a espécie ocorra apenas dentro de áreas protegidas, espera-se que a qualidade de seu habitat diminua continuamente devido aos efeitos da fragmentação, crescimento urbano e fogo”, alertam no artigo. Por isso, a cereja-amarela-de-niterói deve ser considerada Criticamente Em Perigo, o grau mais crítico de ameaça de extinção, sugerem os pesquisadores.
Para enfrentar os riscos que circundam as espécies recém-descobertas, os botânicos apostam nos seus frutos comestíveis e suas belas flores para incentivar que as árvores sejam usadas para fins ornamentais e frutíferas e, com isso, promover também sua conservação ex-situ, ou seja, fora do ambiente natural.
As árvores estão distribuídas em localidades no Parque Estadual da Serra da Tiririca, Parque Natural Municipal de Niterói, Monumento Natural Municipal da Pedra de Itaocaia e na Área de Proteção Ambiental do Morcego, da Fortaleza de Santa Cruz, dos Fortes do Pico e do Rio Branco.
O gênero Eugenia é um dos mais ricos da flora brasileira, com 407 espécies, e inclui plantas como pitangas, uvaias, pitombas e grumixamas. Típica de áreas tropicais, o gênero é amplamente representado ao longo da Mata Atlântica, com 256 espécies, sendo 209 de ocorrência restrita ao bioma. Apesar do alto número, as descobertas continuam, como destacam os pesquisadores. E restam ainda muitas lacunas de conhecimento para serem desvendadas.
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