Eleitores corrompidos geram gestores públicos permissivos

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A conhecida complacência de parte da sociedade, que troca votos por uma camiseta, por um sanduíche ou por uma carona, não é estranha no universo político brasileiro. Mas há agendas mais elaboradas que direcionam os votos, em especial para as cadeiras disponibilizadas para o congresso, assembleias estaduais e câmaras municipais. Atores variados de nossa sociedade se organizam para promover a busca de candidatos que, invés de receberem o compromisso e a incumbência de legislar pelo bem comum, pelo interesse coletivo, são escalados para atender, com promessas previamente acordadas, a portas fechadas ou não, o atendimento de agendas setoriais, sejam elas quais forem. 

Não há perspectivas de mudanças de cenário quando os eleitores optam pelo “interesse setorial”, visando atender expectativas particulares, dentro de um contexto de quem pode mais impõe seus interesses aos que não estão alicerçados com orçamentos e articulações políticas que buscam espaço para “tirar vantagem”. Tudo indica que apenas uma minoria faz parte do grupo que, efetivamente, compreende que a responsabilidade de votar deve estar sempre direcionada ao atendimento de pautas de maior interesse público.

Essa prática recorrente em nossa história torna as eleições um verdadeiro jogo de cartas marcadas, sem qualquer compromisso com um futuro que efetivamente direcione energias para o atendimento de agendas prioritárias, as quais, por evidente desatenção e descompromisso da maioria, ficam para trás, em função das questões consideradas de maior relevância para os muitos que pretendem avanços apenas voltados a suas demandas específicas. 

Mas fica evidente que não é o principal gestor público, nas diferentes instâncias de poder, que tem a condição plena de pautar as agendas que serão estabelecidas para as decisões que são tomadas no âmbito do legislativo. As expectativas de sucesso de pleitos dos gestores do executivo é condicionada sempre a um deplorável processo de troca de favores, caracterizados pelo repasse de recursos e acatamento de vontades alheias ao que se pretende, na busca de mudanças mais consistentes e qualificadas. Cabe, sobretudo, saciar senadores, deputados e vereadores, que pressionam pelo atendimento de suas promessas, estabelecidas no processo de amealhar votos para as eleições. 

Essa distorção crônica tem efeito dramático, pois torna-se praticamente impossível estabelecer um curso adequado para que um governo possa avançar numa direção que não esteja submetida a interfaces alheias ao que deveria representar um caminho mais consistente para solucionar os verdadeiros problemas que seguimos enfrentando de forma cumulativa, sem perspectivas reais de mudanças. Mantida essa camisa de força, mesmo com a disponibilidade de recursos significativos, o empenho de investimentos terá suas direções afetadas pelos vícios de comportamento que seguem presentes e, aparentemente, cada vez mais fortalecidos, originados pela insolvência de um processo eleitoral que se presta, preponderantemente, ao clientelismo. 

As últimas eleições, no que diz respeito à agenda do meio ambiente, oferecia duas opções bastante evidenciadas no cargo maior de nossa federação: ou havia a perspectiva de avanços ainda mais deploráveis no completo desmonte da pauta ambiental, ou um novo governo traria uma expectativa de reversão desses enormes retrocessos vividos nos últimos anos, para um cenário mais alentador, mesmo que certamente bastante distante de uma condição que possa ser considerada ideal, que ainda pode ser considerada uma verdadeira utopia.

Mas é o resultado das eleições legislativas que garante ou não uma condição de governabilidade. Neste momento, está sendo concretizado o desmonte agressivo dos regramentos que ainda sustentam de forma muito frágil o arcabouço que nos permite contar com áreas naturais conservadas e a provisão de serviços ecossistêmicos das quais todos dependemos criticamente. Justamente na proximidade da Semana do Meio Ambiente, nosso legislativo federal coloca em risco de colapso definitivo, o território de abrangência do Bioma Mata Atlântica, onde reside 70% da população brasileira. A maioria dos nossos deputados federais excedem todos os limites ao mostrar suas garras. Uma atitude de tal maneira abjeta que precisa despertar mais a atenção de toda a sociedade.

O Governo Brasileiro, tendo o próprio presidente como seu principal porta-voz, externou, a todos os ventos, o compromisso de que a agenda ambiental seria uma prioridade máxima de seu governo. A estruturação de um novo Ministério do Meio Ambiente agregou responsabilidades anteriormente desviadas de forma permissiva para outras pastas e novos Ministérios e foram criados para um atendimento focado em povos indígenas e tradicionais. É de se esperar que todas as perspectivas de avanços concretos nesses campos de atuação são um compromisso pétreo do atual governo e devem ser preservadas a todo custo. 

Ainda sem uma resposta se as decisões recentes da Câmara dos Deputados, votando em favor de desmonte ambiental totalmente além dos limites aceitáveis, serão vetadas pelo presidente, uma coisa é certa: a decisão a ser tomada nos permitirá conhecer com mais precisão quais serão as tendências, nos próximos anos, no atendimento de demandas que já não representam um problema comum, mas sim uma condição de emergência que gera profundos prejuízos sociais e econômicos ao país. 

Por fim, fica muito difícil a comemoração do Dia da Mata Atlântica, lembrado nwarw 27 de maio, neste sombrio e incerto período em que ainda vivemos.

As opiniões e informações publicadas nas sessões de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

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