Economia da observação de aves ajuda a preservar a Mata Atlântica

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O Brasil é um dos países mais ricos em biodiversidade no planeta, mas esse patrimônio natural ainda é subutilizado e até exterminado por economias convencionais. Ao mesmo tempo, um bloco com 30 mil km2 preservados de Mata Atlântica entre Santa Catarina e São Paulo pode ajudar a virar este jogo.

As 1.971 diferentes aves listadas pela Ciência põe uma medalha de bronze no Brasil no quesito diversidade de emplumados, atrás da Colômbia e do Peru. Além disso, 293 espécies só existem em nosso território. É a terceira maior taxa global de endemismo, liderada por Indonésia e Austrália. 

Já nos Estados Unidos, há cerca de 800 espécies de aves, ou menos da metade da variedade brasileira. Mas, no primeiro país, a observação de aves atrai 45 milhões de pessoas, gera 782 mil empregos e movimenta US$ 96 bilhões anuais, ou hoje quase R$ 500 bilhões.

Os dados foram publicados em 2019 pelo United States Fish and Wildlife Service, uma agência do governo estadunidense que gerencia pesca, a vida selvagem e habitats naturais. O mesmo trabalho apontou uma arrecadação de US$ 16 bilhões em tributos, por volta de R$ 80 bilhões.

Os recursos vêm da contratação de agências e guias por observadores e familiares, pagamento de ingressos em áreas protegidas, alimentação, hospedagem, aluguel ou compra de equipamentos, transportes e outros serviços.

Um atento gavião-caranguejeiro (Buteogallus aequinoctialis). Foto: Raphael Sobania.

No Brasil, os praticantes são em torno de 50 mil. Isso aponta um grande potencial para expandir a atividade, avalia Raphael Sobania, guia de birdwatching [observação de aves livres] e ornitólogo ligado ao projeto Papagaio Charão, uma ave endêmica da Região Sul.

“Mas todo esse potencial precisa ser fortalecido por políticas e instituições públicas e privadas, com mais infraestrutura logística e turística, melhores áreas protegidas e informações”, diz.

Quase uma exclusividade de pesquisadores e acadêmicos há cerca de uma década, a observação de aves ganha em média 20% novos praticantes a cada ano no mundo. Pessoas de países como Inglaterra, Índia, Canadá, Japão e África do Sul vêm ao Brasil atrás de espécies raras ou multicoloridas.

Mesmo parecendo cara, a prática é democrática, pois basta botar o pé na estrada ou na mata e observar as espécies. Depois, é possível perpetuar e aumentar as experiências com binóculos, gravadores e guias. As aves são encontradas no país todo, em certas regiões ainda mais.

Em São Paulo, locais como Cananéia, Iguape e Ilha Comprida são mecas de observadores. A serra catarinense, o litoral e a Serra do Mar paranaenses, também são ricas em diversas e singulares espécies de emplumados, aponta o Wikiaves, enciclopédia online que recebe mais de 10 mil visitas diárias. 

Recém descoberto, o bicudinho-do-brejo (Formicivora acutirostris) vive apenas em banhados com vegetação densa no litoral sul do Paraná e do nordeste de Santa Catarina. Foto: Adrian Rupp/WikiAves

Áreas protegidas naquelas regiões mantêm ambientes favoráveis às aves e outras espécies, como mico-leão e muriqui-do-sul. O papagaio-de-cara-roxa vive na planície do Lagamar, em São Paulo. Além de na poluída Cubatão (SP), o guará vive em mangues de baías paranaenses, como a de Guaratuba.

O gavião-caranguejeiro pode ser encontrado em pontos das regiões Sul, Norte e Nordeste, além de na Venezuela. Mas uma “observação garantida” só na Estação Ecológica de Guaraqueçaba, no litoral do Paraná. “É o melhor local do mundo para avistá-lo”, destaca Sobania.

Ano passado, na reserva Legado das Águas, da Votorantim, foi registrado o recorde de 218 espécies em 24 horas. A ação integrou o chamado Global Big Day, data de mobilização mundial de observadores de aves. Os resultados são listados em bases como a eBird, da Universidade de Cornell (Estados Unidos).

Na prática, quanto mais preservada a região, maior a chance de que aves e inúmeros outros animais e plantas sejam observados. Entre Santa Catarina e São Paulo, a Grande Reserva Mata Atlântica é um dos melhores palcos nacionais para encontros com a biodiversidade nacional.

Em tons de verde, a Grande Reserva da Mata Atlântica. Mapa: Grande Reserva Mata Atlântica/Divulgação.

Maravilha audiovisual

Distribuída por quase 30 mil km2, área similar a de Alagoas, a Grande Reserva Mata Atlântica abarca 110 unidades de conservação, de uso sustentável e de proteção integral, essas mais restritas à presença humana. A primeira delas é de 1958, o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (SP).

“A região prova que as áreas naturais em pé valem infinitamente mais, em múltiplos sentidos, do que degradadas”, pontua Ricardo Borges, coordenador de Comunicação e Relacionamento da Grande Reserva Mata Atlântica. 

Oferecendo inúmeros ambientes, de mangues, rios, lagos a florestas escoltadas por cadeias montanhosas, o território é um grande palco da observação de aves. A atividade se tornou um diferencial econômico da região, dizem as fontes ouvidas por ((o))eco.

Mais comum em brejos, tabocais e juncais no litoral e lagos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, o papa-piri (Tachuris rubrigastra) pode ser encontrado também em outros países sul americanos. Foto: André Luiz Briso

Alguns dos pontos quentes para birdwatchers no bloco preservado são os municípios de Antonina (PR), com 470 espécies registradas, Joinville (SC), com 481, e Peruíbe (SP), com 499. 

“Isso representa mais de 50% das espécies encontradas na Mata Atlântica, do Nordeste ao Sul do Brasil”, destaca Luciano Breves, guia de birdwatching há mais de 15 anos, em nota da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). 

Tamanha riqueza não deixa de estar ameaçada e merece atenção como o restante da Mata Atlântica, bioma cuja vegetação mais íntegra foi reduzida a 12% da original, quanto por aqui aportaram colonizadores europeus, há mais de cinco séculos.

“No geral, a situação [da Grande Reserva] é boa. Tem atraído pessoas para conhecer, admirar e apoiar a conservação. Mas ameaças constantes são a falta de controle sobre a urbanização e cultivos como banana e arroz”, lembra o ornitólogo Raphael Sobania.

Extinta no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia, a jacutinga (Aburria jacutinga) tem hoje suas principais populações brasileiras nos parques estaduais Intervales, Carlos Botelho e Alto Ribeira, em São Paulo. Ocorre em países vizinhos como Paraguai e Argentina. Foto: Adrian Rupp.

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