Os hormônios esteróides, aos quais pertencem os hormônios sexuais como o estrogênio ou a testosterona, são importantes moléculas de sinalização e são responsáveis, entre outras coisas, pelo controle da diferenciação sexual fenotípica feminina e masculina. Eles agem ligando-se a moléculas receptoras que ativam e desativam a atividade de genes dependentes de hormônios. Pesquisadores da Universidade de Freiburg e do Hospital Universitário de Kiel descobriram que os componentes do citoesqueleto estão criticamente envolvidos neste processo. As descobertas são relevantes para o diagnóstico de condições médicas e o estudo de doenças e cânceres nos quais os hormônios esteróides desempenham papéis importantes. O estudo foi publicado na revista Natureza.
Os novos resultados da pesquisa mostram que a actina filamentosa, um componente do citoesqueleto, interage com o receptor de andrógeno diretamente no núcleo da célula e fortalece seu efeito. O receptor androgênico medeia os sinais dos hormônios sexuais para o desenvolvimento do sexo masculino, mas também promove a progressão do câncer de próstata.
Uma modificação genética como indicador-chave
Cientistas com diferentes focos de pesquisa de Freiburg, Kiel e Lübeck colaboraram no estudo em várias disciplinas. O projeto foi conduzido conjuntamente pelo Prof. Faculdade de Medicina de Kiel e Hospital Universitário Schleswig-Holstein, campus Kiel.
Os pesquisadores tomaram conhecimento da conexão anteriormente desconhecida entre actina e hormônios esteróides enquanto estudavam as células de pacientes com a chamada síndrome de insensibilidade androgênica (AIS). As pessoas que vivem com AIS têm um conjunto de cromossomos masculinos XY, mas têm características sexuais masculinas menos pronunciadas, estendendo-se até mesmo a uma aparência completamente feminina. Isso geralmente ocorre devido a uma alteração no receptor de andrógeno, o que significa que os hormônios sexuais masculinos não podem mais fazer efeito. No entanto, o receptor de andrógeno é frequentemente inalterado em pacientes com AIS.
“Queremos descobrir quais modificações genéticas causam AIS nesses pacientes”, explica Hornig. “Assim, queríamos identificar outras moléculas que desempenham um papel no desenvolvimento das características sexuais”. Para isso, os pesquisadores usaram um método de triagem para examinar as células de pacientes com AIS. No processo, eles descobriram mutações no gene DAAM2 em dois pacientes: a molécula pertence ao grupo das forminas e controla a polimerização dinâmica e o alongamento dos filamentos de actina. Como parte do citoesqueleto, a actina é importante para a estabilidade e locomoção das células, mas também desempenha funções regulatórias.
A microscopia de alta resolução revela os processos no núcleo da célula
Os pesquisadores usaram microscopia SIM 3D de alta resolução para examinar se o DAAM2 é realmente importante para o efeito dos hormônios sexuais. Esta é uma técnica elaborada que pode ser usada para observar os movimentos moleculares dentro das células. As imagens mostram que DAAM2 e actina co-localizam com o receptor de andrógeno diretamente no núcleo da célula. Experimentos posteriores demonstraram que essa colocalização é importante para o controle da atividade gênica.
“Este é um modo de ação completamente desconhecido, que conseguimos descrever aqui para um receptor muito importante”, diz Grosse, destacando a importância das novas descobertas. A equipe de pesquisa assume que o mecanismo pode ser generalizado e também influencia o efeito de outros hormônios esteróides. “Isso pode desempenhar um papel em muitos processos fisiológicos e doenças. Será emocionante ver se isso permitirá novas abordagens terapêuticas”, explica Grosse.
Diagnóstico possível para mais pacientes com AIS
A descoberta também fornece uma base para pesquisas adicionais sobre o desenvolvimento de características sexuais e permite um diagnóstico claro para mais pacientes com AIS: “Anteriormente, pacientes com insensibilidade androgênica, mas sem modificação no receptor androgênico, não recebiam um diagnóstico claro, apesar de terem sintomas”, diz Hornig. “Agora podemos fazer um diagnóstico claro para aqueles em quem o DAAM2 está alterado.”