Brasil queimou área duas vezes maior que o Mato Grosso entre 1985 e 2022, diz levantamento

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Mapeamento divulgado hoje (26) pelo MapBiomas revela que as queimadas nos biomas brasileiros atingiram uma área equivalente a duas vezes o estado do Mato Grosso no período entre 1985 e 2022. Nesses 38 anos, mais de 185 milhões de hectares de vegetação, ou 21,8% do território nacional, foram afetados por incêndios, sendo 86% dessa área na Amazônia e no Cerrado. Os dados são da Coleção 2 do MapBiomas Fogo, novo conjunto de informações coletadas pela ONG.

Segundo o levantamento, feito por meio de análise de imagens dos satélites Landsat 5, 7 e 8, 16 milhões de hectares de vegetação foram atingidos pelas chamas todos os anos, em média – o equivalente ao tamanho do estado do Acre.

 Áreas queimadas em mais de um ano da série histórica foram contabilizadas apenas uma vez na contagem total. Ou seja, os 185 milhões de hectares são a soma de todos os pontos que viram fogo em pelo menos um momento desses 38 anos. Mas não foram poucos os que queimaram mais de uma vez: 63% das áreas incendiadas sofreram com o fogo ao menos duas vezes.

A Amazônia concentrou 43,6% da área queimada no país no período analisado. Foram cerca de 81 milhões de hectares atingidos, quase 1/5 da parte brasileira do bioma. 61% dessa área queimou pelo menos duas vezes, com 13% dela tendo sido queimada pelo menos cinco vezes. 

Já o Cerrado, que concentra 42,7% da área atingida pelo fogo no Brasil – quase 40% do bioma –, foi o que teve mais áreas queimadas pelo menos 16 vezes, ou uma vez a cada dois anos: 2 milhões de hectares, o equivalente a 13 cidades de São Paulo.

Ane Alencar, coordenadora do MapBiomas Fogo e diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), explica que o fogo pode ser um aliado, dependendo de onde ele ocorre. “O fogo só é ruim quando é utilizado de forma inadequada e em biomas que não dependem do fogo para se manter, como a Amazônia. Em biomas como o Cerrado, o Pantanal, o Pampa, o fogo tem um papel ecológico e ele deve ser manejado de forma correta para não virar um agente de destruição”, frisa. Segundo ela, “queimas prescritas e controladas” ajudam a controlar a quantidade de material combustível no ambiente, evitando grandes incêndios.

Embora possa se beneficiar do fogo controlado, o Pantanal acabou sofrendo exatamente com o descontrole das queimadas. A planície alagável, que sofreu com grandes incêndios em 2020, viu mais da metade de sua área queimar no período analisado: 51,1%, se isolando como o bioma mais atingido proporcionalmente no país. 

Por outro lado, os proporcionalmente menos atingidos foram a Caatinga (12,2%), a Mata Atlântica (6,2%) e o Pampa (2,4%).

Vera Arruda, coordenadora operacional do MapBiomas Fogo e pesquisadora do IPAM, por sua vez, alerta que o Cerrado também vem sofrendo mais queimadas do que o normal. “O Cerrado é um bioma que evolui com a presença do fogo, sendo parte natural do seu ecossistema, onde muitas espécies vegetais e animais dependem dele para sua sobrevivência. Porém, a frequência e intensidade do fogo têm aumentado nos últimos anos, devido ao desmatamento e às mudanças climáticas que causam o aumento da temperatura e da seca”, pontuou.

Ane Alencar citou ainda a influência de fenômenos climáticos no número de focos. “Percebemos claramente que em anos de El Niño temos mais ocorrência de incêndios, como nos últimos El Niños [2015-2016 e 2019], se comparados aos anos de La Niña, quando chove mais na Amazônia [2018 e 2021]. A exceção a essa regra foi 2022, quando mesmo sendo um ano de La Niña, a Amazônia queimou bastante”, exemplificou. 

A época do ano também tem influência: os meses entre julho e outubro concentram 79% da área queimada no Brasil, com 34% só em setembro – no Cerrado, quase 90% das queimadas ocorrem dentro desses 4 meses. A exceção é a Caatinga, com 60% de suas queimadas entre outubro e dezembro. 

Mato Grosso, que conta com o Pantanal, a Amazônia e o Cerrado em suas fronteiras, acabou sendo o estado com mais áreas queimadas no país: foram mais de 43 milhões de hectares queimados. Pará, com 27,5 milhões, e Maranhão, com 18,2 milhões, completam o pódio. As cidades com maior área queimada foram Corumbá (MS), São Félix do Xingu (PA) e Formosa do Rio Preto (BA).

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