A Amazônia é notoriamente reconhecida por suas florestas densas de árvores imensas. Foi num ambiente bem diferente desse, entretanto, que pesquisadores se depararam com uma nova espécie de hortelã-do-campo ou roxinho. É num solo arenoso e savânico que brota a Hyptidendron dorothyanum, o “roxinho-amazônico”. O nome é uma homenagem à ativista americana Dorothy Stang, que desde a década de 70 atuava na Amazônia, em defesa da floresta e dos povos tradicionais. Dorothy foi assassinada em 2005, no Pará, estado que abriga uma das populações da planta recém-descrita.
“A nova espécie que descobrimos é uma arvoreta com até 3 metros de altura, crescendo em áreas abertas no bioma Amazônico, nas chamadas Savanas Amazônicas, dividindo esse tipo de ambiente no domínio Amazônico apenas com uma outra espécie do gênero, a qual, além de várias características nas folhas e flores, se diferencia pelo seu porte de árvore com até 20 metros de altura, chamada então de Hyptidendron arboreum”, explica o botânico Guilherme de Medeiros Antar, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Guilherme é o principal autor do artigo que descreve a nova espécie, publicado nesta sexta-feira (28), no periódico científico Nordic Journal of Botany e assinado junto com outros três pesquisadores.
O ambiente savânico em que vive o roxinho-amazônico é um ecossistema particular conhecido como campinarana, marcado pelo solo arenoso e árvores de menor porte.
“Apesar da Amazônia sempre ser pensada pelas suas densas florestas, existem outros tipos de vegetação dentro da sua área, como, por exemplo, as savanas amazônicas ou campinaranas, locais onde a nova espécie ocorre. Essas formações lembram ambientes de savana, como o Cerrado, com um estrato de vegetação rasteiro contínuo entremeado por árvores e arbustos esparsos, sendo compostos por uma vegetação específica e ainda relativamente pouco conhecida. Nos últimos anos, revelamos várias espécies novas desses ambientes, que têm se mostrado um importante refúgio de biodiversidade”, destaca José Floriano Pastore, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, que também é autor do artigo.
A planta é atualmente conhecida em apenas duas localidades, uma no Pará e outra no Amazonas, a cerca de 280 quilômetros uma da outra. Os pesquisadores acreditam que novas expedições na região podem revelar novas populações da hortelã-do-campo-amazônica, mas acendem o alerta sobre a susceptibilidade da espécie para ameaças como incêndios, pressão de espécies invasoras, e, principalmente, ao desmatamento e conversão do solo para agricultura.
“Mostramos que a área de distribuição não abrange nenhuma Unidade de Conservação, apesar de um registro ser dentro de uma terra indígena, realçando a importância dessas para a conservação da flora”, destaca Raymond Harley, do Jardim Botânico Real de Kew da Inglaterra, um dos autores do artigo.
“A descoberta de novas espécies e seu mapeamento adequado é fundamental para ações de conservação, pois sabendo quais espécies existem e onde elas estão é possível direcionar essas ações para áreas prioritárias”, completa o botânico.
Com a recém-descoberta H. dorothyanum, chega a 22 o número de espécies conhecidas de hortelãs-do-campo, todas elas com ocorrência no Brasil. Ao todo, a Amazônia brasileira contabiliza 14.500 espécies de plantas e fungos, sendo 2.630 exclusivas do bioma.
“Esse número tende a aumentar bastante à medida que os estudos vão avançando. A Amazônia é o domínio brasileiro menos coletado e estamos em uma corrida contra o tempo para tentar descrever essa biodiversidade antes que algumas espécies possam ser extintas”, destaca Paulo Takeo Sano da da Universidade de São Paulo (USP), que também participou da pesquisa.
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