O ano de 2023 tem sido marcante para a agropecuária. A volta dos mecanismos de controle do desmatamento por parte do governo Lula, a iminência do fechamento de grandes acordos internacionais com regras rígidas de sustentabilidade e a possível criação de um sistema nacional de rastreabilidade individual de bovinos tem movimentado pecuaristas de todo Brasil, que se vêem cada vez mais pressionados a implementar – e comprovar – suas boas práticas ambientais.
Estudo divulgado nesta terça-feira (20) sobre a sustentabilidade na cadeia da pecuária mapeou as melhores práticas sustentáveis na produção de carne no país, trazendo um diagnóstico dos desafios e oportunidades para o setor. Atualmente, a pecuária atua como o maior vetor da destruição na Amazônia e o desmatamento associado tem fechado mercados para a carne brasileira.
Para fazer esse diagnóstico, o trabalho – intitulado “Sustentabilidade na cadeia da carne: caminhos para o Brasil e os aprendizados da Partnership for Forests [Aliança pelas florestas]” – rastreou 112 iniciativas pecuária sustentável no país, identificando os diferentes atores envolvidos nos elos da cadeia e analisando, de perto, suas atividades.
O estudo foi conduzido pela empresa de consultoria Agroícone, com apoio da iniciativa Aliança pelas Florestas (P4F, na sigla em inglês) e do governo britânico, e parceria da organização O Mundo que Queremos.
“O resultado final do estudo não traz nenhuma bala de prata. Mas ele valida, reforça, aponta caminhos, num período que a gente está passando, buscando sair de uma polarização que foi um jogo de perda-perda para ambos os lados. Então acho que vale o esforço de apontar uma solução comum”, disse Márcio Sztutman, diretor para América Latina do P4F.
O estudo elenca sete principais desafios para que a cadeia da carne se torne realmente sustentável no Brasil. O documento também sugere estratégias para superação de tais desafios e elenca quais são os atores potenciais para efetivação dessas mudanças.
Dentre os desafios elencados estão a dificuldade de mensuração das contribuições ambientais trazidas com as boas práticas, os entraves para a adoção da rastreabilidade individual bovina e o próprio desmatamento ligado à produção da carne, ainda uma mancha significativa para o setor.
“O grande trunfo do trabalho é conseguir organizar as várias dinâmicas de incentivos econômicos, as boas práticas, a questão da rastreabilidade e do desmatamento, num lugar só. Ele estrutura e organiza as narrativas e os temas, para que possamos pensar soluções conjuntas”, explica Gustavo Lobo, pesquisador da Agroícone responsável pelo estudo.
Narrativa comum?
O evento de lançamento da pesquisa, na capital paulista, contou com a presença de importantes atores da cadeia da carne, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) e Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que expuseram suas perspectivas sobre a adoção de boas práticas.
Ao final do evento, no entanto, o pecuarista Mauro Lúcio Costa, conhecido por aplicar técnicas sustentáveis em sua fazenda, no Pará, resumiu as barreiras que o setor ainda precisa transpor para, de fato, tornar a produção de carne uma aliada da sustentabilidade.
“Aqui ninguém assumiu a responsabilidade, ‘eu vou fazer isso’, ninguém! Toda hora é culpa do outro. Se o governo não faz sua parte, o que nós precisamos fazer? Eu quero continuar na pecuária, eu crio meus filhos na pecuária e quero criar meus netos na pecuária. Mas sabe porque eu faço? Eu faço por princípio, não faço por regra”, disse.
Segundo ele, que faz rastreabilidade de sua produção desde 1997, mais do que ofertar apoio técnico ou recursos financeiros, é preciso mudar a mentalidade do pecuarista, para que ele realmente entenda os benefícios de trabalhar em harmonia com a natureza.
“Não vai mudar nunca se não mudar o jeito de trabalhar. É tudo questão de mindset. Se não mudarmos a mentalidade do produtor, não vai mudar. Agora, começa pelos pequenos, quando esses caras começarem a melhorar aqui embaixo, vai revolucionar lá em cima [da cadeia]”, disse. Atualmente, Mauro Lúcio consegue produzir até 10 cabeças por hectare. A média brasileira é 0,8.
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