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Uma mudança no balanço de riscos considerado pelo Banco Central (BC) na condução de sua política monetária já permite que uma redução da Selic, taxa básica de juros da economia, possa começar a ser discutida, disseram especialistas em painel promovido pela CNN nesta quarta-feira (8).
Os especialistas citam a eminente chegada do arcabouço fiscal, que deve substituir o teto de gastos, e uma acomodação dos preços das commodities no exterior como importantes componentes dessa balança.
Para Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, os balanços de riscos do país e do cenário externo, principalmente com a “acomodação das commodities”, mostram “evoluções positivas” para a inflação — objetivo principal do BC. Ao mesmo tempo, o nível elevado da taxa Selic tem criado preocupações adicionais que não apareceram na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom).
“As commodities estão em queda e isso não estava no radar. Também temos um aperto no crédito, principalmente após o caso da Americanas, e essa maior aversão a risco, vista no mercado bancário e de capitais, é uma preocupação adicional que tende a desacelerar ainda mais a economia”, afirma ela.
A especialista menciona, por exemplo, um levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) divulgado na tarde da última terça-feira (7).
Em fevereiro, as captações do mercado de capitais totalizaram R$ 13 bilhões, o que corresponde a uma queda de 51,2% em relação ao mês anterior — e a um volume mensal mais baixo desde maio de 2020. Para Vitoria, o dado ilustra como a taxa de juros tem intensificado a aversão a riscos e prejudicado a economia.
“O balanço de riscos mudou, e já podemos começar a debater quando o processo de afrouxamento monetário pode começar”, afirma ela.
A leitura de Antonio Lacerda, doutor em economia e professor da PUC-SP, é que o Banco Central pode começar a rever o patamar a partir do final deste semestre e começo do próximo, se o “contexto técnico” for propício.
“Se o BC tomar a decisão de abaixar a Selic dentro de um contexto técnico, em que ele analisa e pondera todos os fatores, é perfeitamente possível um cenário de queda de juros no futuro, não agora ou na próxima reunião, mas no meio do ano ou no segundo semestre, com a inflação convergindo”, afirma Gala.
“O Brasil está com uma economia mais desacelerada e o desemprego provavelmente vai aumentar, os preços caíram lá fora… O cenário é complemente diferente agora e é em cima disso que o Banco Central deve decidir.”
Os analistas concordam que o atual patamar da Selic, que já chega perto de 14% ao ano, está incompatível com o contexto econômico do país, o que aumenta o risco de criar “consequências muito graves” caso permaneçam no atual patamar de 13,75%.
“Grande parte da desaceleração da economia vista no quarto trimestre de 2022 pode ser explicada pelo aperto na taxa de juros, que começa a ganhar tons mais dramáticos agora”, disse Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
“É possível que o PIB caia mais neste 1º trimestre, de modo a termos uma recessão técnica. Isso cria um cenário bastante complicado. Olhando para frente, os próximos passos devem ser de corte na taxa de juros, principalmente se vier uma regra fiscal como parece que tem vindo adiante.”
Lacerda diz enxergar uma contradição: “Ao mesmo tempo em que o BC argumenta que é preciso manter a taxa elevada devido ao quadro fiscal incerto, essa mesma taxa elevada acaba influenciando as taxas futuras negociadas no mercado. Isso torna o financiamento da dívida pública muito caro, e, como há uma queda de arrecadação decorrente da estagnação da economia, a relação dívida x PIB acaba sendo pressionada.”
Por causa disso, o especialista afirma que há uma inversão da relação causa-efeito. “Os juros são altos não porque existe uma incerteza fiscal, mas porque as pressões decorrentes da elevada taxa de juros sobre o nível de atividade e o custo de financiamento desequilibram e agravam o cenário fiscal”, afirma.
Confira o Painel CNN na íntegra no vídeo acima.
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