Um dos primatas mais ameaçados do mundo, o bugio-ruivo divide seu lar entre as florestas do Brasil e da Argentina. Conhecida como Mata Atlântica em solo brasileiro, do lado argentino o bioma ganha o nome de “Selva Misionera”, e está restrito ao extremo norte da Argentina, na província de Misiones. Fronteiras à parte, o drama do bioma e as ameaças que rondam o bugio são os mesmos em ambos os países: desmatamento, fragmentação e a febre amarela. Na Argentina, entretanto, a situação dos bugios-ruivos é considerada crítica, com uma população estimada em menos de 50 indivíduos. E pesquisadores soaram o alarme: é necessário intervir para evitar que o macaco desapareça de vez das florestas argentinas.
Os primeiros passos já estão em curso. Entre os dias 24 e 26 de abril, pesquisadores se reuniram para discutir a necessidade e a melhor estratégia para o manejo populacional para conservação do bugio-ruivo (Alouatta guariba) na Argentina. A oficina foi promovida pelo Instituto Misionero de Biodiversidad, Ministério de Ecologia de Misiones, Ministerio del Ambiente y Desarrollo Sostenible da Argentina, Neotropical Primate Conservation Argentina, e contou com o apoio da Comissão para a Sobrevivência de Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN/SSC).
A oficina contou também com a participação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB/ICMBio). A presença dos pesquisadores brasileiros não é à toa. Além do país abranger a maior parte da população da espécie, a Argentina não possui bugios em cativeiro. Portanto, eventuais reintroduções e reforços populacionais de bugios na Selva Misionera dependem de animais oriundos de instituições brasileiras.
O evento faz parte do Plan Nacional de Conservación de Primates – o Plano Nacional de Conservação de Primatas da Argentina, aprovado em 2021 – que estabelece uma série de medidas para evitar a extinção do bugio e outros primatas ameaçados no país.
Na Argentina, o bugio-ruivo é classificado como Criticamente Em Perigo, grau mais crítico de ameaça e dados recentes confirmaram a presença do macaco em apenas seis locais da província de Misiones. “Considerando que em cada um desses locais existem um ou dois grupos, cada um composto por 3 a 4 indivíduos adultos mais juvenis e filhotes, calcula-se que o número total de indivíduos maduros remanescentes na Argentina está entre 20 e 50”, alerta a bióloga Luciana Oaklander, coordenadora da oficina, em resposta a ((o))eco.
A pesquisadora da Universidade de Buenos Aires explica que durante o evento os participantes concluíram que para recuperar os bugios na Argentina serão imprescindíveis ações de manejo populacional e quatro medidas já foram apontadas como prioritárias para Misiones: ações de reintrodução, resgate, reforço populacional e manejo ex situ (em cativeiro, fora do ambiente natural da espécie).
Nesse sentido, a parceria com o Brasil é fundamental para os bugios-ruivos argentinos, pois não há nenhuma população em cativeiro (zoológicos e criadouros) no país, enquanto no Brasil há vários animais em cativeiro que podem ajudar as populações em ambos os países.
“A integração entre Brasil e Argentina é fundamental para pensarmos na conservação do bugio-ruivo como um todo. Inicialmente avaliamos a necessidade e construímos o Programa de Manejo Populacional Integrado do bugio para o Brasil, no entanto, a ocorrência dele se estende até Misiones na Argentina, e esta parte de sua distribuição tinha ficado de fora do planejamento brasileiro. Com a oficina realizada na Argentina, conseguimos pensar na importância desse Manejo na totalidade da área de distribuição da espécie, que sofreu gravemente com os surtos de febre amarela”, explica Rafael Rossato, analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB/ICMBio).
O analista faz parte do grupo de acompanhamento do programa de manejo brasileiro e acrescenta que a participação do Brasil na oficina argentina possibilitou ainda um nivelamento e um pensamento integrado entre os países.
O plano para proteger a espécie está dividido em cinco unidades de manejo, devido à maior similaridade genética das populações, sendo: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Argentina; São Paulo; Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais; Bahia; e Paraná.
“A Argentina está na mesma unidade de manejo do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, de acordo com estudos genéticos realizados, que são os estados onde há maior número de indivíduos ex situ (sob cuidados humanos). Vale destacar que há representação da Argentina no comitê gestor do Programa Brasileiro e representação do Brasil no comitê estabelecido para Argentina, possibilitando que essa integração se fortaleça cada vez mais e os programas possam ser pensados conjuntamente, com compartilhamento de conhecimentos e experiências de cada um dos países”, completa Rafael Rossato.
“Ainda nos falta informação para elaborar um plano definitivo. Temos um ideia do que é necessário ser feito, agora devemos planejar. Temos que realizar levantamentos intensos para coletar os dados que faltam sobre as populações da espécie em áreas naturais protegidas”, completa a pesquisadora argentina.
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