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Transcrição
Bichos, Plantas e Histórias que não contaram para você
Episódio 04 | Qual o papel dos zoológicos?
Rafael Ferreira: Entrando na seção de aves.
Olha, vou te dizer, faz muito, muito tempo que não entro aqui. Acho que da última vez foi lá por volta dos meus cinco anos. Lá em 85! Meio que revela minha idade, não é?
Não lembro de muita coisa, mas eu lembro de correr pelas vielas. É assim que eu lembro, mas, na verdade, eram as jaulas, uma ao lado da outra, que para mim pareciam vielas. Parecia um pouco mais escuro. Eu corria para ver todos os tipos de animais, e os meus pais corriam atrás de mim para que não chegasse perto das aulas! Muita coisa mudou de lá para cá. Hoje as vias são mais largas, são caminhos abertos, não há mais aquelas jaulas apertadas. Mas a energia das crianças, isso permanece igual.
Por muito tempo, o zoológico significou isso para mim: uma lembrança de descoberta e diversão. Como foi pra você, Duda?
Duda Menegassi: Acho que não tem dúvida de que a energia das crianças vendo bicho, a energia da descoberta, o encantamento, tudo isso é muito poderoso. Eu morava aqui perto e esse era uma passeio muito comum ao longo da minha infância. Eu lembro de me admirar vendo bichos como o elefante, o leão — que naquela época ficava numa jaula retangular, cimentada, andando de um lado para o outro (ou dormindo, que é o que ele mais faz). Ou, então, de ficar pensando, como que os pinguins aguentavam estar no calor do Rio de Janeiro.
Hoje em dia, não há pinguins no zoológico do Rio e o recinto do leão mudou: está maior, mais aberto, tem plantas, pedras, mas o leão ainda estava dormindo. Tudo bem. É o que ele faz 18 horas por dia. Enquanto eu gravo isso, estou olhando para ele: ele deu uma rápida levantada só para me dar um alô e voltou a dormir. Tudo bem, Leo, pode dormir.
Rafael Ferreira: Você já deve ter notado que essa conversa aconteceu em um zoológico, não é? Mas antes de continuar nosso papo no zoo, deixa eu fazer uma interrupção. Ou melhor, contextualização.
Zoológicos são lugares multifacetados./ E eles não são — ou pelo menos não deveriam ser — apenas para entretenimento. São locais de educação. De ciência. De preservação.
Duda Menegassi: Pois é, esse debate sobre o papel dos zoológicos é super atual e, às vezes, controverso. Tem quem questione a moralidade de prender animais em recintos fechados para entretenimento humano e em ambientes muito diferentes do habitat natural desses bichos, que acabam com uma vida limitada. Já outros, defendem que os zoológicos evoluíram e hoje são espaços norteados pela missão de sensibilizar as pessoas e proteger a biodiversidade. Além de garantir o bem-estar aos animais, promover educação ambiental, fomentar pesquisa e, claro, lazer. Ou seja, como tudo hoje em dia, o zoológico tem seus fãs e seus ‘haters’.
Rafael Ferreira: Por isso, a história que a gente vai contar daqui a pouco, apesar de falar de animais, não é exatamente, ou melhor, não é diretamente sobre um deles. É um pontapé para a gente entender melhor lugares como esse e o que eles significam para a conservação. Então, a pergunta de hoje (e o título do episódio) é: “Qual o papel dos zoológicos?”
Você está ouvindo “Bichos, plantas e histórias que não contaram para você”, um podcast do site ((o))eco de jornalismo ambiental.
Nessa temporada, em seis episódios, a gente traz alguns dos principais temas da conservação da natureza aqui no Brasil.
Eu sou o Rafael Ferreira.
Duda Menegassi: Eu sou a Duda Menegassi.
Bom, se você ainda não adivinhou, a gente está no Zoológico do Rio de Janeiro, que hoje é mais conhecido como BioParque. Ele fica aqui na Quinta da Boa Vista, um parque urbano localizado no bairro de São Cristóvão. Que, curiosamente, apesar de ser o mais antigo zoológico inaugurado no país, em janeiro de 1888, não começou no ponto onde estamos agora. Sua história começa num bairro relativamente perto daqui, o bairro de Vila Isabel — quem é do Rio de Janeiro, sabe — e o passar dos anos trouxe dificuldades financeiras para o zoológico.
Rafael Ferreira: Opa! Acho que cabe uma curiosidade aqui.
Acontece que não tem como falar dessa história sem mencionar algo que todo brasileiro conhece: o jogo do bicho. Hoje, é uma contravenção penal – um crime “leve” — , mas não foi sempre assim. O jogo do bicho foi criado em 1892 pelo Barão de Drummond, fundador do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. Para aumentar o número de visitantes, ele oferecia um prêmio em dinheiro ao portador do bilhete de entrada que tivesse a figura do “animal do dia”. O animal do dia era escolhido entre os 25 bichos do zoológico e passava o dia inteiro sob um pano. Quando chegava o fim da tarde, retirava-se o pano e o bicho do dia era revelado. Mais tarde a coisa ficou mais organizada e os animais passaram a ser associados a séries numéricas da loteria. Assim, o jogo do bicho cruzou o portão do zoológico, ganhou o Rio e todo o país.
Mas o jogo não foi suficiente para pagar as contas do zoológico.
Agora a gente pode voltar para lá.
Duda Menegassi: A manutenção dos animais tornou-se muito difícil e o antigo zoo teve que fechar suas portas na década de 40. E, em março de 1945, ele foi transportado para cá, onde já passou por diferentes gestões — inclusive a das jaulas apertadas que eu e Rafael lembramos da nossa infância —, mas sobrevive até hoje.
Rafael Ferreira: E sobrevive num parque reformado, reinaugurado em 2021, onde as antigas jaulas foram substituídas por espaços amplos, que tentam simular o habitat natural dos bichos que vivem aqui./
A gente está aqui porque o BioParque é o ponto inicial da história dessa investigação.
Duda Menegassi: Era em um desses recintos que o BioParque esperava exibir um grupo de girafas que importou da África do Sul em dezembro de 2021. Mas a denúncia de irregularidades na importação, acusação de maus-tratos aos bichos e explicações que não convenceram tanta gente, frustrou, até o momento, os planos do zoológico.
Rafael Ferreira: Você já deve ter ouvido a história na mídia tradicional. Foi assunto na Band, na Record, na TV Brasil…
A importação de 18 girafas trouxe a atenção da mídia e de organizações de defesa animal porque representou um enorme investimento para trazer para o país animais não nativos e que estão ameaçados de extinção. As girafas vieram de avião e foi a maior importação da chamada “megafauna” para o Brasil.
Quando chegaram ao Rio de Janeiro, foram para um resort safári, em Mangaratiba, no litoral sul do estado. A cerca de 100 quilômetros da capital carioca onde está o BioParque.
Maurício Forlani: O que chamou a atenção, logo de cara, foi o grande volume de animais importados de uma única vez, que praticamente excede a total população existente nos zoológicos do Brasil. Aliado a isso, a documentação dessa importação também traz uma série de itens que chamam a atenção, em especial, a origem desses animais de vida livre e mudanças no processo: então, a origem para o zoo do Rio de Janeiro e, de repente, foi para Mangaratiba. Todo esse trâmite realmente despertou muita atenção, porque ele indica uma série de inconformidades…
Duda Menegassi: Esse que você ouviu é o biólogo Maurício Forlani, gerente de pesquisa da Ampara Silvestre, que tem acompanhado essa história desde o começo.
Maurício Forlani: Então, além dessa mudança, que ia pro zoológico do Rio de Janeiro, o BioParque do Rio, e de repente foi para Mangaratiba, de repente você vê esses animais confinados em baias de 20, 23, 25 metros quadrados, totalmente incongruente com o que a legislação permite. E há uma tentativa desesperada deles de alegarem que aquilo ali é um cambiamento, um momento de quarentena. Esse processo de quarentena, ele existe, ele realmente mantém os animais num ambiente menor, porém não seis meses, nove meses, 10 meses, como esses animais ficaram.
Duda Menegassi: Em um primeiro momento, elas ficariam lá apenas para cumprir a fase inicial de aclimatação, uns poucos meses, mas acabaram prolongando essa estadia, que já dura mais de um ano, por causa de um impasse judicial.
E nesse meio tempo, três girafas morreram.
Maurício Forlani: … claramente por falta de capacidade de manejo das espécies. Então os animais fugiram, os animais foram capturados e todo esse processo de estresse levou a morte dos indivíduos. Então isso mostra também uma incapacidade do grupo para manejar o volume de animais que eles compraram.
Infelizmente, a vida desses animais já foi comprometida para sempre. Eles foram tirados de uma possibilidade de viver livres na natureza. Comprados para vir para o Brasil, ficaram confinados, tiveram o seu espírito de liberdade quebrado depois de 12 meses, 10 meses, confinados. E agora o destino deles está na mão do Judiciário, que se demonstrou totalmente inerte e incapaz de conduzir algo numa celeridade, que era importantíssima para viabilizar o regresso desses animais para a natureza — local do qual eles nunca deveriam ter saído.
Duda Menegassi: A morte das três girafas em Mangaratiba foi o que fez as organizações de defesa animal soarem o alerta vermelho para mídia.
Rafael Ferreira: O BioParque do Rio justifica a importação como parte de um suposto projeto de conservação ex situ. Que é basicamente a conservação de populações fora do ambiente natural da espécie.
As girafas importadas são de uma espécie classificada como Vulnerável à extinção pela União Internacional da Conservação da Natureza. E por meio desse manejo ex situ se garantiria uma população saudável da espécie no país.
Mas o programa apresentado pelo BioParque não detalhava o escopo dos esforços de conservação e tinha furos considerados graves por ambientalistas.
Maurício Forlani: Primeiro, o Brasil nunca foi destaque em programas de conservação de espécies da megafauna das espécies africanas, o que não justificaria tamanha importação pro Brasil. Segundo, quando você começa a ler os parágrafos, os poucos parágrafos que descrevem esse programa, você percebe que tem uma série de inconsistências conservacionistas ou de programas mesmo.
Duda Menegassi: Você já ouviu o Maurício antes. Para ele, a justificativa de conservação é uma falácia. O programa não tinha, por exemplo, uma análise genética dos animais, que deveria ser feita antes da importação para garantir a diversidade genética do grupo importado e evitar a reprodução entre girafas aparentadas. Ou seja, é, pelo menos, uma história mal contada.
Maurício Forlani: E há outros fatores. Onde esses animais iriam ficar, quais seriam as condições deles, qual seria o programa em si, como um todo? Tudo isso não está definido, não está detalhado.
E aí, por fim, tentaram vincular marcas de outras organizações que têm sim um histórico importante na conservação das espécies brasileiras, e isso foi desmentido. Também alegaram envolvimento com organizações internacionais, que também disseram que não tem nenhum tipo de relação. Então um programa, com um aporte de dinheiro desse tamanho, que não está em contato com as melhores instituições conservacionistas de girafas do mundo, demonstra um outro viés de interesse e não necessariamente o conservacionista.
Rafael Ferreira: Em resposta às acusações, o BioParque nos enviou uma nota institucional em que reiterou “o compromisso intransigente”, segundo o texto, “com o bem-estar dos animais sob sua gestão e que não poupará esforços para esclarecer os fatos que são objeto do relatório da Polícia Federal.” A empresa ainda informou que “acompanhou e colaborou com as investigações e que há laudos técnicos periciais e conclusões de diligências que atestam o bem-estar das girafas.”
Duda Menegassi: Independente de qual lado você acredite nessa história, uma coisa é fato: esse caso serviu de munição para aquelas pessoas que entendem os zoológicos como coleções degradantes de animais para entretenimento humano. É a resistência de uma visão de zoológico ultrapassada. E existem modelos que ilustram justamente o contrário, que mostram como os zoológicos podem ser fundamentais para a conservação.
Luis Paulo Ferraz: Quando cheguei aqui para trabalhar com o mico-leão-dourado, há 12 anos, eu tinha uma visão muito, posso dizer, preconceituosa, mas [também] uma visão muito distante do trabalho de zoológicos, que muita gente tem essa referência como um lugar de aprisionamento de animais, de exploração da fauna, e isso ocorre em vários zoológicos pelo mundo. Entretanto, é necessário separar porque tem quem faz trabalho sério, que ajuda diretamente na conservação e a história do mico-leão-dourado prova isso.
Rafael Ferreira: Este que você está ouvindo é o Luis Paulo Ferraz, secretário executivo da Associação Mico-Leão-Dourado, a AMLD.
Luis Paulo Ferraz: Em um certo momento do programa de conservação do mico-leão-dourado, foi identificado que havia a necessidade de um incremento rápido da população e com uma diversidade genética maior do que o que tínhamos aqui na região de ocorrência da espécie, no interior do Estado do Rio de Janeiro.
Rafael Ferreira: A ONG lidera os esforços para salvar essa espécie de macaco que só existe no estado do Rio e que, na década de 70, estava prestes a desaparecer das florestas.
Luis Paulo Ferraz: A partir de 1984, essa articulação que partiu de uma relação de pesquisadores brasileiros com o Zoológico Nacional de Washington, ela durou cerca de 16 anos (foi até o ano 2000) e com isso houve um engajamento de zoológico do mundo inteiro para enviar animais para serem reintroduzidos na floresta, aqui no Brasil.
O mico é um animal endêmico das matas do interior do Estado do Rio de Janeiro e foi traficado para vários países. Houve um comércio muito grande envolvendo zoológicos e que constituiu uma população de cativeiro que hoje beira aos 550 animais em mais de 150 zoológicos em todo o mundo. A construção desta relação e o sucesso desta iniciativa, que foi muito ambiciosa, constitui hoje uma referência de que sim, é possível que um trabalho com populações de cativeiro contribua decisivamente para salvar uma espécie ameaçada.
Duda Menegassi: E uma coisa legal é, justamente, como houve essa mudança: os zoológicos,antigamente, eram o destino de micos traficados e, no final das contas, ele se tornaram o principal ator para acabar, ou pelo menos diminuir, o tráfico ilegal de mico, que era uma das grandes ameaças para a espécie.
Luis Paulo Ferraz: Exatamente. O que aconteceu: com este engajamento todo e com a regulamentação desse processo, passou a não ocorrer mais a compra e venda de animais e os zoológicos passaram a fazer um intercâmbio entre eles. E, o que é mais importante, com um controle da diversidade genética. Ou seja, o zoológico de Copenhagen necessita de uma fêmea porque a fêmea do seu plantel morreu. Então há uma pessoa que cuida desse banco de dados — Jennifer Nickelback, do Zoológico de Atlanta, nossa parceira aqui diretamente — que vai identificar, dentro do banco de dados, qual o zoológico tem um animal compatível com a genética do macho do Zoológico de Copenhagen, para poder fortalecer a genética desses animais em cativeiro.
Duda Menegassi: O caso dos micos é uma ótima referência do papel desse zoológico moderno, que nasceu no século 21, pensado como um local para a pesquisa, para o salvamento e para a proteção de espécies. Onde se reúnem profissionais especializados, como veterinários, biólogos e zootecnistas, que cuidam da alimentação, da ambientação dos recintos, da saúde mental e física dos animais, entre outras atividades.
A exposição dos animais é um meio. Um meio para promover educação ambiental, para manter a reprodução dos animais em cativeiro. É um meio para conseguir recursos para investir em conservação.
Mara Marques: Podemos considerar os zoológicos e aquários modernos como grandes centros de conservação multidisciplinar e transdisciplinar. Desde o passado, em 2300 antes de Cristo, essa régua da evolução dos zoológicos vem acompanhando até o que somos hoje, no século 21, com instituições que são voltadas e que têm seu foco voltado para a conservação da biodiversidade, tendo como base as suas áreas de visitação para que o público conheça, para que o público se aproxime e para que o público tenha conhecimento sobre aquelas principais espécies e sobre diversas espécies ameaçadas de extinção. Considerando que os zoológicos mundiais recebem mais de 700 milhões de visitantes por ano, só aqui no Brasil mais de 30 milhões de visitantes visitam os zoológicos e aquários brasileiros, não podemos de fato desconsiderar uma população que entra nas nossas instituições e que pode receber todas essas informações importantes.
Rafael Ferreira: Essa é a Mara Marques, presidente da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil, a Azab. Mara é bióloga e trabalha no Zoo de São Paulo.
Mara Marques: Como diz a professora, a Dra. Regina Horta, da Universidade Federal de Minas, uma grande estudiosa sobre a história dos zoológicos, os zoológicos são grandes corredores ecológicos artificiais: eles são interconectados de uma maneira completa entre si junto com o ambiente natural, com a vida selvagem, de onde as diversas comunidades conservacionistas e científicas se interagem.
Então os zoológicos, de fato, não são reconhecidos com uma grande Arca de Noé, que fica à deriva procurando o lugar para você atracar e liberar as espécies. Não existe ambiente intocável nesse mundo. Grandes reservas são cercadas hoje para sua proteção. Hoje, a mão humana da mesma maneira que ela destrói ela constrói. Então, por que não trabalharmos de uma forma integrada? Por que não unirmos esforços — esforços sejam esses de conhecimento, de ciência, de educação, de recursos humanos, de capacitação, de recursos financeiros, de políticas públicas? Não vamos conseguir salvar espécies ou diminuir a sua pressão se não trabalharmos em conjunto, em equipe.
Por isso, quando falamos de conservação, hoje falamos da integração do manejo in situ e ex situ. Não temos como trabalhar isoladamente pois a conservação está intimamente ligada a in situ e ex situ.
Rafael Ferreira: A Mara reconhece que há muitos zoológicos que precisam evoluir, mas ela também reforça que o momento é justamente de mudança de paradigma.
Mara Marques: Os zoológicos precisam sim, ainda, melhorarem. Ainda precisam ter esse reconhecimento da sua missão, da sua visão. Eles precisam, primeiro, identificar qual é o seu papel, qual é o seu principal objetivo, qual é a sua missão e quais são os valores que ele precisa atingir e qual é a sua visão de futuro. Quando cada instituição tiver esses valores, essa visão muito bem traçada, a eficiência dos manejos, a eficiência da conservação e desses valores será muito maior. Então estamos num momento de trajetória de mudanças, de mudanças culturais, de mudanças de paradigma de modelos de gestões diferentes desses empreendimentos, para que a gente possa, de fato, ser encarados como instituições que fazem a diferença para conservação da biodiversidade.
Rafael Ferreira: A própria história do zoológico do Rio traz esse choque de visões. Em 2016, o Ibama fechou o espaço à visitação depois de décadas de denúncias de problemas estruturais e de falta de condições adequadas para os bichos. No mesmo ano, o espaço foi entregue à iniciativa privada, com o objetivo de acabar com esses problemas históricos e sintonizar o zoo do Rio com a nova visão do que deve ser um zoológico.
Duda Menegassi: E vale dizer que, no Brasil, os fins da educação e da pesquisa sempre estiveram no cerne dos zoológicos. No cerne e numa lei, de 1983, onde está escrito que, no nosso país, a gente considera “jardim zoológico qualquer coleção de animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou em semiliberdade e expostos à visitação pública” para “atender a finalidades sócio-culturais e objetivos científicos”. E as atualizações a essa lei reforçam o papel de conservação da fauna que os zoológicos devem exercer.
A gente perguntou lá atrás “Qual o papel do zoológico?” Existem muitas respostas, mas depois de tudo o que nós vimos aqui, podemos dizer que está bem claro qual NÃO é o papel — ou pelo menos qual não deve ser.
Rafael Ferreira: E a história que não contaram para você é que, apesar da desconfiança de alguns e de casos controversos, os zoos podem ser uma grande ferramenta de conservação. Tanto para pesquisa científica, quanto para sensibilizar e informar as pessoas sobre animais. E ainda para conservação de populações saudáveis sob cuidados humanos, que podem, se necessário, ser reintroduzidas na natureza.
E funciona, sabe.
Eu olho ainda olho com carinho pra uma foto minha no zoológico do Rio. Com cinco anos? Um menininho. Meio confuso, não sabe se olha para foto, ou se olha para o álbum de figurinhas que ele está carregando na mão. Eu estou parado em frente ao restaurante que tem aqui no zoológico do Rio. Eu acho que essa foto é, provavelmente, daquele mesmo passeio de 85 que eu falei no início do episódio.
Duda Menegassi: Pois é, Rafa. Eu também tenho uma foto dessa no zoológico, de criança. Devia ter uns oito anos, mais ou menos, e eu estava em cima de uma árvore que está lá até hoje — fica bem ali, de frente para o corredor onde está a onça pintada — e essas memórias me fazem entender como que o zoológico, enquanto espaço de pesquisa, que sensibiliza e informa as pessoas sobre os animais, de fato, funciona.
Rafael Ferreira: E assim chegamos ao fim do quarto episódio de “Bichos, plantas e histórias que não contaram para você”, podcast do site ((o))eco de jornalismo ambiental.
No próximo episódio vamos falar de dois primatas: os zogue-zogue de Mato Grosso que, tão logo foram descobertos, já estão entre as espécies de primatas mais ameaçados de extinção do mundo, e os bugios da Mata Atlântica, que tiveram uma segunda chance e estão sendo reintroduzidos no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. São duas histórias que mostram como a perda de habitat tem um impacto forte na sobrevivência dos primatas brasileiros, animais tão dependentes das árvores e das florestas.
Este podcast teve o apoio do programa Acelerando a Transformação Digital, do Meta Journalism Project, em parceria com o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês) e a Associação de Jornalismo Digital, a Ajor.
“Bichos, plantas e histórias que não contaram para você” tem produção da Todavós e de ((o))eco.
Acesse o nosso site, oeco.org.br e clicando na página ESPECIAIS, você tem acesso a todas as informações sobre o projeto, com conteúdos adicionais sobre cada um dos episódios.
As matérias que deram base a esse episódio “Programa de conservação inconsistente aumenta pressão contra BioParque no caso das girafas”, “MPF pede com urgência nova vistoria de girafas importadas pelo BioParque“, ambos escritos pela Duda Menegassi, e a coluna “O falso discurso conservacionista do BioParque: o caso das girafas” de autoria do Maurício Forlani, você também encontra no site.
A pesquisa, roteiro e apresentação são da Duda Menegassi e minha, Rafael Ferreira.
As externas foram gravadas no BioParque do Rio de Janeiro.
A consultoria em roteiro e revisão final são da Geórgia Santos. A Geórgia também fez a edição junto com o Douglas Weber.
A montagem, a sonorização e a finalização são de Douglas Weber.
A música original é de Gustavo Finkler.
A estratégia de promoção, distribuição nas redes e conteúdo digital é de Milena Giacomini e da Gabriela Güllich — que também assina a identidade visual.
Idealização, coordenação e execução financeira do projeto são do Paulo André Vieira./
Além de áudios do nosso acervo, este episódio usou trechos de reportagens da Record TV, Band e TV Brasil.
A gente quer agradecer ao Maurício Forlani, ao Luis Paulo Ferraz, à Mara Marques, à Vanessa Rodrigues e a toda a equipe da Comunicação do Bioparque.
Também queremos agradecer ao Thiago Reis, Ale Potascheff, José Orenstein, Felipe Seibel, Rodrigo Alves, à Mônica Aquino, à Bruna Borjaille, à Alison Grausam e à Thayane Guimarães, do Centro Internacional para Jornalistas, além da Maia Fortes, todos os colegas da Ajor, e à toda a equipe de ((o))eco.
Duda Menegassi: Se você gostou desse episódio e está curtindo o nosso trabalho, acesse oeco.org.br e saiba como virar um apoiador do jornalismo ambiental independente.
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