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Em 2023, se vislumbrou alterações disruptivas nas normais climatológicas, em que, simultaneamente, tempestades, enchentes e incêndios florestais causavam devastação. Apesar da manifestação das anomalias climáticas desencadeadas, o mundo está no caminho para um aumento de 9% nas emissões até 2030, em comparação com os níveis de 2010, ficando muito aquém da meta crítica de redução de 43% para o cumprimento do Acordo de Paris.
Embora recordes de temperatura já tenham sido quebrados, a contínua emissão de gases de efeito de estufa (GEE) pelos diversos setores conduzirá ao aumento do aquecimento global, com a melhor estimativa de atingir 1,5°C no curto prazo em cenários considerados e trajetórias modeladas. Cada incremento da temperatura média global intensificará riscos múltiplos e simultâneos. Por conseguinte, as opções de mitigação que hoje são viáveis tornar-se-ão limitadas e menos eficazes. Com o aumento do aquecimento global, as perdas e os danos serão crescentes e outros sistemas humanos e naturais atingirão limites de adaptação.
A emergência climática ganha relevância na medida em que evidências indicam a ocorrência de impactos associados a esse fenômeno, que podem influenciar de forma negativa os sistemas naturais, humanos, produtivos e de infraestrutura, a exemplo da biodiversidade, recursos hídricos, energia, agricultura e segurança alimentar. Nesse sentido, faz-se notável que 1958 cidades, ou seja, um em cada três municípios brasileiros estiveram em situação de emergência, segundo informações do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil.
Posto que os efeitos da mudança climática sobre a população são de origem multicausal, variam em intensidade e atingem diversas dimensões, como cultura, educação e economia, sua avaliação é complexa. Logo, é necessária uma abordagem integrada e interdisciplinar, envolvendo profissionais de saúde, cientistas sociais, biólogos, físicos, químicos, epidemiologistas, educadores e outros. Essa abordagem propõe, assim, analisar as interações entre o social, econômico, biológico, ecológico e físico, e suas relações com as alterações do clima.
Entre 1998 e 2017, eventos climáticos extremos mataram 1,3 milhão de pessoas em todo o mundo. As 55 economias mais vulneráveis à mudança climática têm, sozinhas, registrado perdas e danos de mais de US$500 bilhões por ano nas últimas duas décadas. Mortes de pessoas com mais de 65 anos relacionadas ao calor extremo já aumentaram 85% desde a década de 1990. O número de pessoas que correm o risco de morrer devido aos efeitos do calor extremo pode aumentar em cinco vezes nas próximas décadas. Quase 520 milhões de pessoas ainda devem enfrentar uma situação de insegurança alimentar moderada ou grave entre 2041 e 2060 por causa das mudanças climáticas, segundo as projeções. E as doenças infecciosas transmitidas por mosquitos devem ter uma propagação crescente, a transmissão da dengue, por exemplo, pode registrar alta de 36%.
Cada vez mais, os investimentos em proteção e resiliência se tornam uma precondição para a paz e a estabilidade e exigem esforços sem precedentes para modificar sociedades, economias, infraestruturas e instituições de governança. Diante dessa nova realidade, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) define adaptação como ajustes em sistemas ecológicos, sociais ou econômicos, em resposta a estímulos climáticos reais ou esperados, e seus efeitos ou impactos. Portanto, a adaptação refere-se a mudanças em processos, práticas e estruturas para moderar danos potenciais ou para se beneficiar de oportunidades associadas às mudanças climáticas.
A adaptação pressupõe, então, medidas imediatas que permitam conviver com os impactos causados por esses eventos. As medidas não visam propriamente a redução dos impactos causados ao sistema e sim a assimilação destes. Assim, parte-se da compreensão que a mudança já está ocorrendo e que, provavelmente, não é mais possível revertê-la. Desse modo, será necessário adaptar-se, com vistas a proteger as populações, os meios de subsistência e os ecossistemas aos efeitos negativos da mudança do clima, levando em conta as necessidades urgentes, particularmente dos mais vulneráveis.
Entre os diagnósticos realizados no estado de Goiás, é unânime a vulnerabilidade e riscos das cidades às mudanças do clima. Os estudos apontam que há tendência de aumento da temperatura, com aumento da frequência de temperaturas extremas, aumento da duração de ondas de calor e, por conseguinte, secas e queimadas. Simultaneamente, há a tendência do aumento de chuvas intensas e inundações, em outras áreas específicas. Logo, se mostra urgente a reestruturação do modelo de intervenções em áreas de risco de alagamento e secas.
Nesse cenário, Goiás tem por objetivo geral promover a gestão participativa para a diminuição do risco frente aos efeitos adversos da alteração climática, de forma a aproveitar as oportunidades emergentes e evitar perdas e danos. A atuação do governo estadual visa, então, a adaptação de modo estruturante, conciliando a redução do risco de desastres e a adoção de soluções baseadas na natureza com um processo de desenvolvimento resiliente sob variados recortes setoriais e temáticos. De modo que, a partir da observação de melhores práticas e diálogo com a sociedade, se executará iniciativas transversais.
Dessa forma, pretende-se assegurar a implementação satisfatória e coordenada das estratégias de gestão de risco garantido prioritariamente a segurança alimentar e nutricional, hídrica e energética. Concomitantemente, as medidas estarão alinhadas com o fomento do setor produtivo a partir de uma transição justa e com as metas de desenvolvimento socioeconômico com vistas à redução de desigualdades, adotando uma atuação coerente frente à intrínseca conexão da emergência climática com a agenda de defesa de direitos humanos.
*Natália Brito é colaboradora da Gerência de Mudanças Climáticas e Serviços Ecossistêmicos da Semad
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