Alta temperatura na diplomacia climática

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Enquanto o Hemisfério Norte frita de calor e o noroeste chinês atinge temperaturas de 52º C, os líderes chineses rejeitaram a proposta norte-americana para uma ação climática mais efetiva.

O desalento é estado proibitivo na diplomacia. John Kerry, enviado do governo norte-americano para questões climáticas, declarou que retomar o diálogo já foi um progresso. Para Li Shuo, analista do Greenpeace para o Leste Asiático, o resultado foi “um passo importante no que será uma operação de resgate complexa”.

Estados Unidos e China são os maiores responsáveis pelo lançamento (cerca de 45%) do dióxido de carbono, que contribui para o aumento do aquecimento global. Em 10 de julho, um estudo publicado na Nature Medicine, coordenado pelo Instituto Francês de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm) e pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), revelou que “em 2022 mais de 60.000 mortes na Europa foram atribuíveis ao calor”. O cenário previsto para 2023 é bem pior. 

Os chineses estão fazendo vistas grossas e a resposta dada a Kerry foi evasiva. Jinping afirmou que a China, responsável por um terço das emissões globais de dióxido de carbono, perseguiria suas metas de eliminar emissões em seu próprio ritmo e à sua maneira.

Este imbróglio tem determinantes difíceis, pois os Estados Unidos são, historicamente, os maiores emissores mundiais de Gases Efeito Estufa (GEE).

Simultaneamente, ocorria na China a Conferência Nacional de Proteção Ecoambiental. Em seu discurso de abertura, Jimping afirmou que o desenvolvimento econômico e social da China entrou em um estágio de desenvolvimento de alta qualidade de aceleração do greening e do baixo carbono, e a construção da civilização ecológica ainda está em um período crítico de pressão sobreposta e carga pesada. Devemos planejar e promover a nova jornada de proteção ambiental ecológica com uma posição mais elevada, uma visão mais ampla e maior intensidade, e escrever um novo capítulo na construção da civilização ecológica na nova era”. 

Trocando em miúdos, a China, que responde por 31% da poluição global por carbono, considera prioritário seu crescimento econômico e não irá parar tão já. Sua extração de carvão para queima em usinas termelétricas está em franca ascensão, o que aumenta a poluição a cada ano. Já afirmou que atingirá o pico de emissões antes de 2030 e que até 2060 cessaria as emissões.

No ritmo atual, a China sozinha poderia lançar o mundo no horizonte perigoso de aquecimento médio de 2 graus Celsius desde o início do período industrial. Segundo o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC), “limitar o aquecimento global a 1,5°C em vez de 2°C poderia resultar em cerca de 420 milhões de pessoas a menos sendo frequentemente expostas a ondas de calor extremas, e cerca de 65 milhões de pessoas a menos sendo expostas a ondas de calor excepcionais, assumindo vulnerabilidade constante (confiança média)”.  

O conceituado geofísico Bill McGuire, da University College London, autor de “Guia para o fim do mundo”, aponta que “um aquecimento acima de 1,5°C representaria um mundo atormentado por intenso calor, seca extrema, inundações devastadoras, colheitas agrícolas declinantes, rápido derretimento das camadas de gelo e elevação do nível do mar”, e conclui: “Um aumento de 2°C ou mais ameaçará seriamente a estabilidade da sociedade global”.

O futuro é incerto para nós, que convivemos hoje com aumento médio próximo de 1,2 grau Celsius. O atual El Niño converterá, com facilidade, esse valor em índices superiores a 1,5 grau.  Note-se ainda que o dióxido de carbono, lançado hoje na atmosfera, lá permanecerá afetando várias gerações.

Como a crise climática sino-americana se desenvolverá é um enigma. Mas os laços econômicos são umbilicais. A Casa Branca pretende ações econômicas coercitivas, com restrições aos investimentos americanos em empresas chinesas de computação quântica, inteligência artificial e semicondutores, o que deve provocar mais mal-estar nas relações. 

Além disso, as conferências climáticas globais continuam a ser territórios minados. A Austrália, maior produtora de carvão mineral depois da China, pleiteia sediar a COP 29, que este ano será conduzida nos Emirados Árabes Unidos (COP 28) por um executivo da ADNOC, uma das maiores empresas de Petróleo da OPEP.  

Passados 17 anos do lançamento de “Uma verdade inconveniente”, o ex-vice-presidente americano Al Gore declarou nesta semana: “Todas as noites no noticiário da TV é como fazer uma caminhada pela natureza através do Livro do Apocalipse”. Citando que 80% da energia planetária é proveniente de fontes fósseis, Gore afirma o que está se tornando óbvio nas conferências climáticas: “carvão e petróleo não estão caindo sem lutar”.

Um pouco distante das atuais perspectivas científicas de Bill Mcguire e das frequentes declarações do secretário geral da ONU Antonio Guterrez, resta esperança e otimismo em Al Gore: “Sabemos como consertar isso. Podemos impedir que as temperaturas subam em todo o mundo com apenas três anos de defasagem, atingindo o zero líquido”. 

Mesmo com o Hemisfério Norte fritando, os chineses não recuam e prometem jogar muito carvão na fogueira. A diplomacia global segue nos trilhos do velho ditado da diplomacia irlandesa: “Mandar alguém para o inferno, de forma que este procure rapidamente pelo caminho”. Até mesmo porque, a depender da China, não haverá outro caminho.

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